03 Abril , 2010
"Em época de Páscoa, jogadores de futebol fazem visitas a instituições de caridade.
O Santos não é diferente, e levou seus jogadores para visitar uma casa com 34 pessoas com paralisia cerebral, para entregar ovos de páscoa.
Mas alguns jogadores se negaram a descer do ônibus."
Uma má sucedida ação beneficente pode ter sido a gota d"água para que aflorassem no Santos problemas que estão se arrastando, mas vêm sendo encobertos pelo brilhante desempenho do time. A recusa de vários jogadores, entre eles Robinho, Neymar e Paulo Henrique Ganso, em entrar na instituição de caridade Lar Espírita Mensageiros da Luz, para entregar ovos de Páscoa a pessoas com deficiência, teria sido uma forma de mostrar insatisfação.
Com exceção de Madson e de Roberto Blum, os jogadores foram representar o Santos na entrega de 640 ovos de Páscoa à entidade beneficente, que cuida de 34 pacientes, entre crianças, adolescentes e adultos, vítimas de paralisia cerebral. Mas os principais jogadores se recusaram a entrar na instituição e sequer desembarcaram do ônibus do clube, no qual permaneceram por duas horas. A informação foi que a decisão teria sido por motivos religiosos.
Diante da repercussão negativa, Neymar e Paulo Henrique foram ontem à TV Bandeirantes, para pedir desculpas. "Conversei com o meu pai, e percebi como foi ruim a nossa postura. Por isso, temos que pedir desculpas"", afirmou Neymar, alegando que teve receio de entrar na casa espírita e não se sentir bem diante de algum ritual.
Ao participar do programa por telefone, Robinho afirmou que Neymar tinha falado demais e procurou se justificar. "Só ao chegar soubemos que se tratava de um ambiente espírita. Cada jogador tomou a atitude que achou conveniente, e acho que a religião de cada um precisa ser respeitada. Ninguém orientou a gente para que tomássemos essa atitude. Ela foi movida pela religiosidade de cada um. Isso não tem de virar polêmica."
"Essa situação não agrada a ninguém"", repetiu ontem Dorival Júnior. "Mas temos de respeitar a posição dos jogadores." A atitude fere cartilha de conduta do clube, que proíbe manifestações religiosas.
Onze jogadores entraram no Lar Mensageiros da Luz e deram atenção aos doentes. Dos titulares, apenas Felipe, Edu Dracena, Pará, Arouca e Wesley. Os outros foram Wladimir (goleiro reserva), Zé Eduardo, Maikon Leite, Breitner, Zezinho e Gil.
Fonte: Estadão.com.br
Ed René Kivitz, Pastor evangélico e santista desde pequenino, faz as seguintes ponderações:
Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais Bíblia e de cada uma das tradições de fé.
Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno, ou se Deus é a favor ou contra a prática do homossexualismo,ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião.
Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião.
Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.
O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância.
A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai.
E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.
Mas quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz.
Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, fazem com que os discordantes no mundo das crenças se deem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.
Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina – ou pelo menos deveria ensinar - você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.
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