01/09/2002
Jornal Estado de Minas
Bem Viver
"Aquilo em que acreditamos e repetimos constantemente para nós mesmos, influencia a elevação ou não da nossa auto-estima. Refazer essas crenças, se negativas, é o início"
"Caro Antônio Roberto,
Li sua matéria no ESTADO DE MINAS recentemente - Entre a Paixão e o Amor - e me identifiquei muito com a autora da carta. Você disse que a paixão ocorre por causa de nossas carências infantis - meus pais são separados desde meus quatro anos de idade - e que devemos resgatar nossa auto-estima para podermos vencer a paixão e aprender a amar. Como posso recuperar minha auto-estima e suprir as carências da infância?" Leonardo Oliveira
A base de uma vida saudável, do ponto de vista psicológico, é o amor a si mesmo. Daí a importância do tema solicitado pelo Leonardo. Quase todos os nossos problemas emocionais - ansiedade, timidez, auto-destrutividade nos negócios ou na vida amorosa, o caminho das drogas - têm sua origem na auto-estima insuficiente.
É esse afeto por nós mesmos que nos dá o sentido de valor, de merecer o sucesso seja em qual área for. É o que nos leva a enfrentar os desafios da vida. É na hora da queda, dos fracassos, das perdas inevitáveis, já que somos humanos, que a auto-estima reflete sua face mais importante. Na mesma circunstância em que uns optam pelo renascimento, pela recuperação, outros optam pela depressão e acomodação no sofrimento.
A auto-estima está em tudo o que fazemos e, segundo os psiquiatras franceses Christophe André e François Lelord, ela se estrutura em três aspectos principais:
O auto-amor, que é a base - É a pessoa se amar, de forma incondicional, aceitando-se tal qual como é, com suas qualidades e defeitos e mesmo no fracasso continuar se sentindo digna de respeito e de consideração. O contrário do auto-amor é a crítica excessiva que fazemos a nós mesmos, fruto das críticas que sofríamos na nossa infância. O perfeccionismo, ou seja, a total intolerância aos próprios erros, o desejo onipotente de que tudo esteja certo, inclusive do ponto de vista corporal, alimenta a auto-estima baixa, minando o auto-amor. A comparação entre o eu-real, aquilo que eu sou e o eu-ideal, aquilo que eu gostaria de ser, produz a sensação de incompletude e vazio e uma auto-aversão.
A auto-imagem - É a imagem que temos de nós mesmos e é de fundamental importância no gerenciamento de nossas vidas. Se temos uma boa avaliação de nossos atributos, inteligência, beleza, sensibilidade e talentos, aceitamos que a vida é uma construção e estaremos motivados para o auto-desenvolvimento, para a realização e a felicidade. Se, ao contrário, nos vemos como pessoas fracas, feias que não dão conta, sem sorte, incapazes, evitaremos as situações de risco, nos acomodando no crescimento e fazendo acontecer situações de fracasso que vão corroborando a imagem que temos de nós próprios.
A auto-confiança - É a capacidade de acreditar que damos conta, que todos nós temos um potencial humano que nos capacita a realizar nossos sonhos e desafios. E dar conta não significa vencer sempre. Significa ter coragem de enfrentar situações novas e saber levantar, mil vezes se for preciso, nas nossas quedas. É a abertura às possibilidades e ao desconhecido, tendo clareza de que o nosso único compromisso é com a felicidade e com as tentativas.
Como desenvolver o auto-amor? Atrás de todo comportamento humano existem crenças e valores que, internalizados desde cedo, podem nos levar a um maior ou menor afeto por nós. Aquilo em que acreditamos e repetimos constantemente para nós mesmos, influencia grandemente a elevação ou não da nossa auto-estima. Refazer essas crenças, se negativas, é o início.
Vejamos: sou importante e digno de amor e respeito, independentemente dos meus erros. Não estou na vida para atender às expectativas de outras pessoas; cada pessoa é dona da sua própria vida. Se alguém me despreza ou diz não me amar ou termina um relacionamento comigo, isso pode ser triste, mas não pode determinar o meu valor enquanto pessoa.
Eu me perdôo por não ser perfeito. Aprender com os erros é diferente de não errar. Não posso gastar minha vida, agradando sempre. Não preciso mudar de opinião em nome da aprovação alheia. Eu não sou os meus problemas e não posso me definir por eles. Eu valho independentemente de estar passando por situações difíceis, como desemprego, dificuldades financeiras, afetivas, sexuais etc. Não tenho medo de ser chamado de egoísta, quando estiver lutando pelos meus interesses e defendendo o que é meu.
Tenho de acreditar que o amor é amar ao próximo como a si mesmo e, não, mais do que a si mesmo ou ao invés de si mesmo. Essas crenças revelam, de uma forma ou de outra, a base estrutural da auto-estima, sem a qual é impossível a felicidade. Pessoas que se amam tendem naturalmente à fluência das relações, gerando interesse pelas outras pessoas, empatia e amor. Pessoas que se desprezam desenvolvem relações difíceis, competitivas, complicadas. O auto-conhecimento, a auto-aceitação, a sinceridade com os próprios sentimentos e o desejo profundo de aprender a se amar é o verdadeiro caminho para a plenitude e o significado da vida.
Antônio Roberto Soares
Nenhum comentário:
Postar um comentário