AMOR E CASAMENTO




Jornal Estado de Minas
Bem Viver


"Antônio Roberto, sou casada há 11 anos e sinto uma certa frieza na relação com meu marido. Tanto da parte dele quanto da minha. Será que vale a pena uma relação em que o amor não está tão forte como era antes? Georgina, de Belo Horizonte"

A vida humana, como em toda natureza, é cíclica. Da mesma forma que as estações do ano se revezam em primavera, verão, outono e inverno, nós e nossas relações podem passar por momentos de alegria, entusiasmo, moderação e esfriamentos.

Todos nós aspiramos relações sólidas, estáveis, fortes. Em um relacionamento, principalmente, conjugal, nosso grande desejo é estarmos unidos e integrados. Para isso, é fundamental o compromisso mútuo. Não é à toa que simbolizamos a união afetivo-sexual com as alianças. Aliança é um pacto. É comprometimento. Obviamente que como tudo na vida, as relações podem terminar. Elas também padecem na sua essência, da transitoriedade da vida humana. Há, porém, uma grande distância entre esse fato e a fragilidade das relações sem um profundo envolvimento. Mas qual a natureza desse compromisso? O primeiro deles é o compromisso com a outra pessoa tal qual ela é, com suas singularidades e suas diferenças. 

Muitas pessoas se casam com uma imagem de como a pessoa "deveria ser". Isso não é um verdadeiro compromisso e, com o tempo, a pessoa se frustra e desencanta com o outro. Outro compromisso fundamental é com o relacionamento: saber que a relação deve ser cuidada e aperfeiçoada. Torná-la cada vez melhor. Fortalecer o relacionamento, através de um tempo comum, de divertimentos comuns, de conversas descontraídas. Outra meta é traçar objetivos comuns: casar, morar juntos, ter filhos, partilhar despesas, se apoiarem mutuamente, etc. 

O grande problema no casamento é que a maioria dos casais não se compromete nem com a outra pessoa, nem com a relação, nem com os objetivos, mas apenas com o amor. Na medida em que nossos sentimentos são cíclicos, o compromisso apenas com o amor fragiliza a relação. O amor muda de intensidade em algumas épocas da vida. Como todo sentimento, tem altos e baixos e não podemos confundir algum período de "menos amor" com o fim do casamento. Com a fantasia de que o amor deve permanecer sempre do mesmo jeito, os casais sentem muita culpa quando percebem que esse sentimento não está intenso. É como se estivessem errados por não vivenciar todo o fogo que tinham antes. 

As pessoas não sabem que existem outros sentimentos que contrabalançam e justificam um casamento: companheirismo, admiração, solidariedade, amizade, respeito etc. A idealização romântica, as fantasias e os mitos a respeito do amor e do casamento tornam muita união conjugal, que tem tudo para ser prazerosa, um verdadeiro inferno. Se o objetivo da vida é a felicidade, o que justifica plenamente uma relação afetiva é ser feliz e querer ajudar o outro também a ser feliz. Viver o amor possível e não o amor imaginado. 

A frieza que aparece em muitos casais é fruto do amor romântico, da supervalorização da paixão em vez de se privilegiar o compromisso. O problema é que as pessoas cada vez mais têm medo do envolvimento e do compromisso. O medo de sermos controlados, de nos aprisionarmos, de sermos sufocados tem fragilizado as relações. 

Respondendo à pergunta da leitora acima, acho que vale muito a pena uma relação onde o amor não está tão forte como era antes, se houver o compromisso mútuo entre as pessoas, se houver compromisso com a relação e com os objetivos comuns e, sobretudo, com a administração da alegria do casal. Quando há um compromisso apenas com o amor, a pessoa permanece com a outra enquanto o sentimento durar. Quando por qualquer motivo o sentimento entra em uma fase menos intensa e cansativa cada um se isola e literalmente abandona o outro. 

As ameaças constantes de separação, o tal de dormir em camas separadas, o não dar nenhuma satisfação à outra pessoa, o não ter nenhuma atividade em comum, a falta de intimidade e a dificuldade em partilhar os mundos de cada um é que acabam com o casamento. A falta de compromisso é que mata a relação conjugal e não a eventual diminuição ao amor. É um grande engano achar que o amor, da maneira que nos ensinaram, é o único responsável pelo fracasso ou sucesso da união afetiva. 

Antônio Roberto Soares 

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